segunda-feira, 23 de junho de 2014

Por todos os natais


Sempre que as pessoas comemoram o Natal, eu comemoro minha mudança ao Rio de Janeiro. Aconteceu em 25 de dezembro de 1993.

Foi no mesmo ano dchacina na Candelária, da transição da URV como nossa moeda de temporária e dos fuscas recriados por Itamar Franco, nosso único presidente que não tinha uma primeira-dama e sucessor de Collor após o impeachment. Foi também quando Madonna e Michael Jackson fizeram shows pela primeira vez no Brasil.


E foi no mesmo dia do natal. Uma data simbólica para o cristianismo, mas que sequer está escrito na bíblia, criado pelo homem, como as igrejas.


No ano passado, passei a noite de natal sozinho em casa, como vem sendo nos últimos tempos, mas completei redondinhos vinte anos de Rio. 

Ao chegar aqui, tudo o que eu carregava comigo era um bilhete de viagem para um lugar desconhecido e uma mala cheia de vontade de ficar longe de tudo e todos que me faziam mal. E consegui. O mal ficou preso ao passado e a si mesmo.


Mas também trazia juventude, anarquismo, aventura, romance, sonhos e solidão. 


Nesses vinte anos morando aqui, ganhei asas e voei sobre terras que nem imaginava existir. Conheci pessoas que me ensinaram a sentir saudade, e outras que me trouxeram o alívio da distância. 


Durante esse tempo, muitos sonhos também nasceram. Alguns se realizaram, aos pouquinhos ou de uma só vez, deixando aquele sentimento de paz com você mesmo. Outros se perderam no caminho, talvez porque não valeriam mesmo a pena. 


Nos vinte anos em que vivo nessa cidade, não sou mais o mesmo: mais feliz, mais realizado, mais dono de mim. Só que também mais velho, mais triste e nem tanto senhor de mim. 


Então, quando chega essa época cristã, vejo as pessoas fazendo valer seus lados de boazinhas, retribuindo cartões, abraços e palavras, trocando presentes e se empanturrando nas mesas fartas.

Eu apenas olho para os lados e vejo quem ainda está comigo, apesar de tudo. Olho para trás e vejo o que conquistei e quem ficou. Mas, principalmente, olho para a frente, tentando saber se ainda falta muito ou pouco para chegar lá. 


Vinte anos depois, talvez eu continue sem algumas coisas que não tinha, desde o começo, mas com certeza conquistei o que poucos tiveram ou terão a chance. 


E isso para mim que é o verdadeiro espírito natalino. 


Um feliz natal todos os dias para todos.