sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O voo de Ana Cristina César



A querida amiga e atriz Dai Fiorati tinha me convidado, certa vez, para acompanhá-la ao Instituto Moreira Salles, durante o seu processo de pesquisa sobre a escritora Ana Cristina César, destinado a um espetáculo experimental e intimista que ela estava montando, e que acompanhei como admirador e consultor. 

Ana Cristina César é um dos ícones da literatura-revolucionária-feminina-brasileira, em especial do gênero carioca. Poeta de alta grandeza, realizou um precoce voo, em determinado momento da vida, pela janela do apartamento em Copacabana, que causou a queda da sua existência mas elevou sua imortalidade. 

Hoje o Instituto detém quase todo acervo da escritora, doado pela família, principalmente as cartas que ela escreveu e nunca mandou para alguns amigos ou para si mesma. Entre elas, sua carta de despedida, momentos antes da morte (que copiei lá e transcrevi aqui ao final). Foi uma experiência reveladora tocar numa das últimas coisas que ela tocou ao se despedir.  

Mas a grande ironia do destino, de certo modo, era saber que aquele belo casarão de arquitetura moderna, onde viveu a família Moreira Salles, antes de se tornar uma referência de cultura e pesquisa, foi também palco dos últimos dias de uma das esposas suicidas do ex-proprietário, Walther Moreira Salles. 

Impregnados pela poética imparcial e visceral de Ana C., eu e Dai resolvemos, ao final, tomar um café no pátio externo do Instituto. Eis que uma misteriosa visitante apareceu, pousando na murada que cercava o lago, diante de nós. 

Tão sutil quanto desconfiada, a ave, de brancura infinda, pescoço longuíneo, corpo magro, pernas alongadas, descansou minutos de sua viagem desconhecida, fingindo ignorar os meus curiosos olhares. 

Com passos quase sagrados, começou a caminhar sobre as águas, respeitando as carpas que fugiam assustadas, até se esconder nas folhagens de plumas verdes dos arbustos ao redor. 

Embora sua indiferença gritasse, ela parecia ter hora e lugar: aguardava o alimentador de peixes, que chegaria em seguida, de mansinho, atirando ração aos cardumes que se agitavam num festival de cores famintas. 

Ela, então, com a delicadeza dos caçadores, mergulhou o esguio pescoço na profundeza rasa, logo emergindo com um pequeno peixe preso no bico, debatendo-se pela vida. E o engoliu num só solavanco. Depois, outro. E outros. Muitos peixes. Todos virando comida enquanto se distraiam comendo.

Até que, por fim, cheia de graça e desengonçada, com uma aparente saciedade, ela debateu as asas brancas e alçou voo, desaparecendo nas alturas, como se abraçasse o céu.

Um anjo predador que por ali passou.

Dai em cena com a peça inspirada em Ana Cristina César, 
com direção de Dora Bellavinha e Lucas Casttelo.

Armando,

Passei esta noite de sexta feira escrevendo a continuação de “Aventura na Casa Atacarraca” (história fantástica à moda de Poe), pensando que Homero gira e me chama de “filhinha” (recuo em sobressalto) e versificando seu poema “Na beira, copm os olhos abertos”, como uma louca a compor quebra-cabeças de mil peças. Não são mil, mas reparto outra vez a resistência dos breves effes; de trezentos mil, parece, fizeram uma torre bem alta em Paris, e não era de marfim, mas puro ferro. Por obra sua escapei de me lançar do alto dela, mas no teu poema belo esse excesso contraditoriamente, acredito, anuncia uma renúncia. Nos próximos, outros effes serão cortados, como num fla-flu final de campeonato, serão cortados assim definitivamente, voos supérfluos em direção ao chão. Mas eu te dizia... Estou sujíssima. Não sei como poderei pegar no sono. 
A literatura me perturba. Uma caixa cheia de cartões postais me perturba. A renúncia me perturba. Até uma caixa dágua, um otorrino gauche, um índice onosmático. Tomo tudo na veia. Os calcanhares (de Aquiles ou Mercúrio?) me pinicam. Os objetos me olham histericamente. Até que mais à noite a atenção... Ora vá tomar banho, você diria da sua gaiola das loucas (ainda são 4?). A beira, a borda, o quase, a renúncia – é por aí mesmo – ou melhor, certa renúncia: você sabe muito bem, mas como eu, que agora, por sua causa, coloca vírgulas e trocadilhos no lugar, após.. no papel. 
Às vezes entra em surto de ignorância (aquela que a psicanálise cura) e se atraca como um navio numa estaca: já viu um paquete amarrado numa estaca? Despropósito! Releia a Ode Marítima depressa e vá ver o Lacan. 

Ps.: Antes que eu assine, ter sentido o mesmo medo que te assola, que nunca me contaste e que eu, como tonta, declaro ter adivinhado ou inventado, o que dá na mesma para nós, cartomantes dos poetas: o de que qualquer Lacan roube de mim. Ou te roube um verbo , ou ter cure a cegueira encantadora... 

Pronto, confessei. Mary saberia: não rouba não, Armando! É só impressão (nos 2 sentidos). 

Beijo, Ana C.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Minha história com Hilda Hilst

Fábio Fabrício Fabretti com Hilda Hilst na Casa do Sol.
'Falamos muito sobre fantasmas. E detalhe para o estranho vulto sobre ela.'

Foi no natal de 2002, embora quem me conhece sabe que datas nunca foram o meu forte. Mas, em caso de dúvida, há Ana Kfouri, diretora e atriz, e Olga Bilenki, artista plástica e então esposa do escritor Mora Fuentes, para confirmarem.

Desde jovem devorava tudo de Hilda Hilst. E ao ingressar na faculdade de Letras, em 2000, surpreendi-me, pois mal se falava sobre ela e outros autores nacionais considerados 'malditos'.
  
Aproveitando que frequentava assiduamente o laboratório de informática - wifi sequer sonhava existir - e que acabaria trocando, mesmo tardiamente, minha barulhenta máquina de datilografar por um lento computador modelo 486 - com internet discada -, decidi, por conta própria, saber mais a respeito da autora que tanto me fascinava. 

Descobri que Hilda estava viva, morando em sua Casa do Sol, isolada e doente, no interior de Sampa. Consegui seu endereço e telefone através de um site. E liguei, cheio de ousadia e sem saber o que encontraria. O coração aos sambas. 

Quem atendeu foi Mora Fuentes, um escritor e velho amigo dela. E provisório secretário, já que Hilda não tinha mais condições de se administrar sozinha. E confiava nele para ajudá-la, junto de sua esposa, Olga Bilenki.

Não sei se era comum receberem ligações de leitores. Hilda sempre reclusa, enfrentando problemas financeiros e lutando contra as sequelas de uma doença. Mas Mora foi atencioso comigo e me deixou trocar algumas palavras com ela. 

Ela falava pouco, a princípio. Acho que gostava mais de ouvir. E respondia monossílaba, entrecortada por uma respiração ofegante. Sabia através da imprensa que seu estado era crítico, devido às três isquemias sofridas, e que a deixaram debilitada, embora com uma memória infalível.

Continuei o ritual uma vez por semana, telefonando para dar-lhe um oi. Mora me permitia conversar alguns minutos com ela. E Hilda me contava vagamente sobre sua precária saúde, reclamava de alguma coisa, ria de outras e ainda perguntava da vida aqui fora.

Uma semana antes do fim do ano, liguei para desejar boas festas e dizer que havia escrito uma peça sobre ela, quando, para minha surpresa, foi Hilda quem atendeu. Fiquei tão esfuziante – e ela também, com a ideia do roteiro – que recebi seu inesperado convite para passar lá o Natal.

Não me fiz de rogado. Confirmei com Mora, que respondeu: ‘Ora, se é um convite dela, que assim seja’. Então comprei a passagem e viajei na véspera do dia 25 de dezembro.

Cheguei tarde para a ceia, porque o voo atrasou e a distância do aeroporto para a Casa do Sol era grande. Hilda já havia ido dormir. Jantei com Mora, Olga e o filho deles. Papeamos um pouco. Depois me alojaram num dos quartos de hóspedes, nos fundos da casa, onde, ao fechar a porta, vi uma placa em letras garrafais: ‘É mais tardes que supões’. 

Claro que nem dormi de ansiedade. E amanheci com as galinhas, vasculhando e fotografando tudo ao redor da casa, sempre cercado pelos desconfiados cachorros que chegam a somar uns cem, entre vira-latas e de raça.

Ela vivia de fato em seu reino encantado, sua fortaleza abandonada, seu paraíso solitário, batizado de Casa do Sol, onde nasceu, cresceu, refugiou amigos na ditadura, casou, separou, produziu e até gravou vozes de espíritos e via até extraterrestres. Mas que, na verdade, era a antiga sede que restou da sua fazenda herdada, a onze quilômetros de Campinas.

O casarão tinha um estilo espanhol, cercada por verde e que antes ficava bem no coração de uma floresta, hoje povoado por casarões e chamado Parque Xangrilá – com xis mesmo. Um condomínio residencial construído sobre as terras que ela havia herdado dos pais. E que aos poucos foi vendendo.

Impregnada por uma energia histórica, a Casa do Sol era um  templo-humano e ao mesmo tempo um bordel-canil. Talvez um abrigo onde o Sol e a Lua se refugiavam, em meio àquela construção de telhas altas e sem forro, sustentada por paredes da cor do oriente e retratos de rostos como Freud, Einstein, Kafka, familiares e amigos, quase já todos mortos, mas com olhares vivos sobre nós.

As tantas janelas e a porta principal, todos de madeira, permaneciam sempre abertas, noite e dia, como se ninguém se atrevesse a invadir o sagrado lugar.

No meio da sala principal, com sofás e poltronas gastas, uma lareira de pedras silenciosas, como se esperassem as fogosas mãos da dona para acendê-la e crepitar centelhas da memória.

Dezenas de esculturas e totens se espalhavam pelos cômodos e varanda, parecendo vivos e eternos guardiões. E plantas, em vasos e no chão, das coloridas às sem graça, nascidas aos tufos pelos cantos.

No pátio interno da residência, um jardim de inverno de arquitetura hispânica, onde se tem a sensação de estar num monastério, com um chafariz que vive cheio de vazio.

No quintal dianteiro, um largo corredor de terra, cercado de palmeiras Reais, formando uma passagem ilustre que terminava num esquecido portão de grades enferrujadas e trancado, guardando certo ar monacal e tomado pelo capim.

Ao lado, sombreando uns bancos de pedras, vê-se a lendária figueira, que enfia seus galhos no profundo das nuvens. Uma árvore que é personagem centenária de sua vida e dos seus textos, onde ela diz que realiza pedidos, em noites de lua cheia. 

Não sabia em qual calendário lunar estávamos, mas me sentei na poltrona rochosa, que ela dizia ser o trono do Jô Soares, fechei os olhos e fiz os meus três pedidos. Juro que não lembro com o que pedi, de tão secretos, mas, como me conheço, em geral peço coisas repetitivas. Então, analisado hoje, suponho que tenham sim se realizados.

Ao olhar para cima, o alto das copas era um teto verde, onde o vento mexia as folhas e fazia os galhos roçarem, soando uma misteriosa sinfonia. Segui outro caminho de tijolos esverdeados, coberto de lodo e musgo, cercado por um matagal e que conduziam para lugar nenhum. E novamente o vento, os cachorros, as sombras.

De repente o bando canino se alvoroçou aos atropelos para o interior da sede, numa profusão de latidos, uivos e grunhidos. E eis que, na soleira da porta, surge Hilda Hilst, recebendo um altivo coro de seus cães, que deviam fazer toda manhã aquela espécie de musical matutino, formando uma ensurdecedora orquestra de bichos.

Tal qual uma regente musical ou rainha do seu mundo, ela estendeu os braços de mangas esvoaçantes, conduzindo a algazarra e aos poucos ordenando que parassem, enquanto abaixava os magros braços, sensorialmente, no silêncio que foi se construindo.

Continuei hipnotizado pela cena até que ela sorriu e me acenou para entrar. E nos cumprimentamos. Obedeci a todos seus comandos, igual a um dos seus cães.

Conhecê-la foi mergulhar no mais iluminado e obscuro do ser. Um oceano de mistérios e um deserto de revelações. Enquanto estive ao seu lado, via-me enfeitiçado por aquela magia bem e mal dita.

‘Desculpe não ter esperado você ontem. Durmo cedo por causa dos remédios, mas o meu horário nobre para despertar é por volta das dez da manhã, quando soam os sinos no Olimpo’, brincou, movendo com dificuldade o corpo definhado e falando com a dicção estremecida. ‘Todo santo dia é uma constante briga entre a vida e a morte’, debochou.

Hilda era uma imagem grandiosa de tanta pequenez, forte e frágil, refletida na pele translúcida, nas lagoas dos olhos azuis, nos ralos cabelos de louro medieval. Uma aparição quase que divina. Ou demoníaca. Nunca soube ao certo. Vestia um longo e largo vestido vermelho, lembrando uma bata usada pelas divas dos palcos. Mas ela era mesmo diva das palavras. E me dava a impressão de contemplar uma flor. Flor vermelha. Rosa sangrenta. Rainha do jardim que fenecia.

Elogiei sua roupa. ‘Vermelho é a vida, a paixão, o amor’, ela respondeu com voz fraquinha, mas sorridente. Sentou-se numa bergere marrom, que devia ser a sua preferida, enquanto a cachorrada dominava o sofá maior. Acendeu um Chanceller, com a postura de uma musa épica, e tomou seu cálice de vinho Chalise, a única bebida ainda permitida pelos médicos.

‘Senta aqui pertinho de mim’, pediu, abrigando minha mão na sua. Sentei. E na profundeza do seu olhar celeste, ela parecia saber muito mais do que nós o que acontecia à sua volta. Tinha uma lucidez meio senil. Uma doçura meio amarga. Uma realidade meio sonhadora.

‘Mas que bom que você gosta da minha obra. Ela é especial e só as pessoas especiais podem compreendê-la’, comentou. E começamos a falar sobre tudo. 

Quando o assunto virou o amor - aliás, palavra que sempre brotava dos seus lábios - o brilho azul das pupilas se dilatou: ‘Eu não me apaixono mais. É muito bom se apaixonar. A gente renasce. Mas envelhecemos e vamos deixando de amar, Fábio. E é uma pena. Queria morrer apaixonada, mesmo que fosse por uma pedra.’

Sobre as tristezas da vida, Hilda tragava a fumaça e baforava os sentimentos: ‘O que seria da comédia sem a tragédia? Um tédio.’

Uma hora seu telefone de modelo antigo e vermelho tocou. Ela atendeu. Falou com um amigo que pareceu reclamar quando ela perguntou se ele estava bem. E depois retrucou: ‘Ah, não se preocupe, a gente sempre pensa na morte. É inevitável.’

Quando me ofereceu bebida e neguei, agiu exatamente como aquela dama que tanto escandalizou a sociedade: ‘Não aceita me acompanhar no vinho? Bom... então, foda-se!’

Fez-me uma confissão: ‘Tenho vontade de estudar Física. Já sonhei com Einstein. Ele apareceu e me disse que sou ele no escuro. Mas não saio dizendo isso por aí. Vão pensar que pirei de vez.’

Numa vitrola, colocou o vinil de Ima Sumac, que eu não conhecia. ‘Era minha amiga. Uma cantora de ópera colombiana. Quase não se tem mais registros sobre ela, coitada. Conseguia atingir oitavas maravilhosas, mas parou de cantar um dia, simplesmente, e ficou vinte anos muda. Depois voltou.’

Entre papos, vinhos, fumaças e risadas, ela repentinamente se calou e me estendeu a mão, em sinal de silêncio. Ergueu-se alguns centímetros e voltou a se acomodar. ‘Desculpa, é que preciso peidar. Tenho muito respeito por meus gases.’

Em sua biblioteca particular, rodeada por pilhas e estantes de livros, um paraíso de papel, que cheirava sabedoria. Hilda colocou os óculos, escolhe um livro, espana a poeira e abre numa página amarelada, diante da luz que vaza da persiana aberta: ‘Veja. Estou relendo a história de uma santa. Adoro santos. Queria muito ser uma quando era criança’. E suspira: ‘Amo as mutilações das santas. Adoro ser mártir.’

Em certo momento esparramou seu olhar quase translúcido para fora da janela escancarada, por onde entrava vida, sol, vento e lembranças: ‘Tenho pavor de sair de casa. Veja como está o mundo lá fora. As pessoas me requisitam em tantos lugares e não entendem que, se realmente me querem tem que ser aqui. Este é o meu lugar.’

Quando perguntei sobre Caio Fernando Abreu, riu baixinho: ‘Ele era o oposto alucinado’. E me contou do pacto que fizeram, um dia, se um deles morressem primeiro.

‘Fábio, por que as pessoas falam tanto de mim, agora? Passei mais de cinquenta anos sem ninguém saber quem sou. Que ridículo. Agora me descobriram?’ Quando respondi que para mim ela sempre havia sido famosa, reivindicou: ‘Eu não quero ser famosa. Só quero que me leiam.’

Presenteei-a com um cartãozinho de uma menina abraçada com um elefante, ambos de costas, mostrando que a amizade supera as diferenças. E ela chorou uma lágrima hildiana, discreta, como fazem as pessoas que valorizam o simples e entendem a poesia da vida.

Soube que relutava usar o computador, sem abrir mão de sua milenar máquina de escrever, onde digitava ainda, com ávidos e franzinos dedos pálidos, por horas esparsas, sua mais nova criação, ‘O Koisa’, sobre um caroço de azeitona numa empada.

Só de perto que entendi, naquele recanto clerical, que lá ela era si mesma. Ou se reinventava, longe dos ruídos urbanos e dos sintomas da civilização, dedicando-se ao prazer crucial e inevitável que faz qualquer escritor supera o tempo, a dor e a distância, chamado ‘escrever’.

A gente nunca sabe quando a manhã vira tarde na Casa do Sol, porque as horas por lá são areias invisíveis na ampola do tempo. E quando as primeiras brumas do crepúsculo entraram na casa, resolvi me despedir.

Ela me abraçou e pediu que ficasse até o Ano Novo, porque fariam uma fogueira. Hilda gostava de ser amada. Mas paradoxalmente temia a solidão.

Ana Kfouri estava prestes a chegar, combinado de passar o fim de ano juntas, e o horário do meu voo se aproximava. Então parti, mesmo desejando ficar e pensando que um dia voltaria a vê-la. 

No entanto, soube do seu falecimento, dois anos depois, quando abri o jornal. Antes ainda nos falamos algumas vezes pelo telefone. E Mora me dava notícias dela, ajudando a autorizar o texto teatral que eu havia escrito, inspirada numa história que ela me confidenciou durante a visita.

Mas tenho que confessar: assim que retornei ao Rio, segurando o livro autografado que ganhei dela, entrei em meu escritório e refiz toda a peça. Porque havia cometido um crime. 

A Hilda que havia criado era uma personagem, um mito que nasceu das minhas leituras e pesquisas. E agora, após conhecer a verdadeira escritora, desmitificada e real, entendi o que só quem teve a chance de conhecê-la.

E que, por mais que se tente, não se pode descrever. 

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Aquilo que o tempo não leva



Na adolescência gostava de manter correspondências. Algumas feitas à mão, com letra de colegial dedicado que perdi aos poucos. Outras datilografadas na máquina de escrever que meus pais haviam me dado.

Só quem conheceu as antigas cartas sabe que elas possuem um aspecto romântico, de segredo velado, sentimento enviado, mistério selado. Aquilo que alguém mandava, o carteiro entregava, a gente lia e o tempo guardava. 

Podiam ficar mofadas e amareladas, entulhadas nos fundos das gavetas ou arrumadas dentro das caixas, mas duravam a eternidade do momento. 

Era o mais barato e eficaz recurso para se comunicar com alguém, principalmente à distância, naqueles fins dos 80 e despontar dos 90, antevendo a explosão da informática. Além do telefone e do telegrama - que muitos nem deve suspeitar o que é.

Pouco sociável, naquela complicada transição de menino para rapaz, eu vivia cercado pelos livros e trancafiado no meu quarto, de onde só saía para estudar de manhã ou fazer algo na rua à tarde. Nunca era convidado para as festinhas da turma nos fins de semana. E sendo menor não tinha vida noturna.

Então, além dos livros, as cartas eram minhas companhias, justamente por unirem as duas coisas que eu mais amava: ler e escrever. E ainda me proporcionavam ir adiante sem sair do lugar, conhecendo gente e trocando ideias.

Se os livros eram fiéis e permaneciam ao meu lado, as cartas se atreviam a criar asas e sumir pela vida, flanando lá fora, soltas ao léu, às vezes trazendo respostas que aceleravam meu coração.

Tudo havia começado quando descobri um daqueles classificados de amizade que vinham impressos nas revistas, algo bem comum na época. Pessoas que queriam fazer contatos devido algum tema específico, gostar de alguém famoso ou por colecionarem algo. Outras apenas por pura solidão. Encontrei o pessoal fixado por livros e não titubeei, selecionando os mais interessantes e lhes escrevendo. 

Não é que me responderam? E iniciou-se assim uma troca de comunicação que deu novo sentido para meus dias. Depois do almoço, ao voltar da aula, esperava o carteiro aparecer na calçada, enquanto lia deitado numa rede na varanda, ou parava o que estivesse fazendo ao ouvi-lo bater palmas no portão. 

Um simples pedaço de papel carimbado passou a me representar um passaporte para o infinito. E sem limites, mesmo dentro de toda aquela limitação.

O ritual se consistia em virar a noite escrevendo-as, depois colocá-las dentro dos envelopes e finalmente deixá-las sobre a escrivaninha, prontas e lacradas, algumas bem gordinhas de papéis dobrados, esperando a hora de irem embora nos correio.  

Através delas tive amigos reais mas também imaginários, de certo modo, pois me pegava imaginando como eram e como viviam. E nem foram muitos. Talvez uns cinco ou seis, ao total.

No entanto um deles que mais durou e que me marcou foi Vanderlei Carlos Santana, que morava em Franca, no interior de Sampa, pouco mais velho que eu e leitor voraz. Ele me respondia regularmente e muito me motivou a produzir e conhecer outros autores e obras.

Nunca nos falamos por telefone e sequer nos vimos por fotos, mas trocamos uma dezena de cartas, durante aproximadamente um ano. E, sem me lembrar do motivo, um dia paramos.  

Mas obrigado, querido e velho amigo, por ter me procurado de novo. E também pela bela e inesperada homenagem que transcrevo abaixo, e que me motivou a fazer esse texto. 

Pessoas como você fizeram e sempre farão diferença na minha vida.

E se comemoramos agora a facilidade da comunicação graças à rede, lamentemo-nos pelas cartas que recebemos atualmente dos correios, contendo só contas a pagar!

Desde pequeno eu gostava de ouvir a minha mãe contar histórias, à noite, após o jantar. E uma que eu sabia de cor e salteado, mas que pedia sempre para ela, era a dos 3 porquinhos. Eu gostava de sentir aquele frio na barriga, mesmo sabendo que os porquinhos estavam protegidos na casa de tijolos. Então fui crescendo e tomando gosto pela leitura. Devorei os livros da Aghata Christie e fiquei deslumbrado, me imaginando um dos hóspedes da pensão onde ocorreu um assassinato em "A Ratoeira". Mas também fiz umas 200 viagens no famoso trem de "Assassinato no Expresso do Oriente". O tempo passava e eu na adolescência, um moleque travado, com uma dificuldade enorme pra fazer amigos, resolvi desenvolver um lado escritor. Peguei caderno, caneta e logo escrevi a minha primeira história. Fiquei empolgado e escrevia mais e mais. 
Um dia uma professora me orientou a manter contacto com pessoas ligadas à literatura, para observar, aprender. Então coloquei um anúncio numa revista, procurando amizade com jovens de todo o Brasil,que tivessem gosto por livros. Assim que a revista chegou às bancas, "choveram cartas" na minha casa. Empolgado, li todas, mas selecionei 50 e passei a me corresponder mensalmente com esses jovens. Um ano depois desse monte de amigos, sobraram uns 3, duas moças, sendo uma do Rio Grande do Sul e a outra de Igarapava. E um amigo do Paraná. Ficou assim mais fácil. 
Eu pedia a opinião a esses jovens sobre os textos que fazia, e eles me mandavam sugestões, correções. Mais tarde, cada jovem resolveu seguir seu caminho. E as correspondências pararam de acontecer. Muitos anos depois, já na era da Internet, eu tinha desistido do sonho de ser um escritor, mas continuava devorando os livros. Certa noite, assistindo ao Jornal Nacional, vi uma matéria que me chamou a atenção, sobre um evento para comemorar o lançamento da biografia da atriz Gloria Pires. Não é que o escritor entrevistado tinha o nome do meu amigo da adolescência? Ainda fiquei em dúvida, mas aquele nome não era tão comum assim: Fábio Fabrício Fabretti. 
Resolvi pesquisar na internet, e era o meu amigo do passado. Ele havia conseguido realizar o seu sonho de se tornar um escritor profissional. Entramos novamente em contacto, através do Facebook, e retornamos a amizade com interesses literários, mas agora com uma relação bem forte e adulta. Eu enterrei os meus sonhos de ser um "narrador de histórias", mas desde aqueles tempos o meu amigo me mostrou que, se temos um sonho, um objetivo de vida, devemos ir atrás, lutar por ele. Nada cai do céu. Talvez aquele não fosse o meu sonho. Era só uma maneira de mostrar que eu tinha algo de bom para as pessoas gostarem de mim. Mas ele foi à luta, sofreu, mas venceu naquilo que sabia poder fazer de melhor. Então, acho que os meus melhores conselhos daquela época foram de um "jovenzinho adulto". 
Muito obrigado pela amizade, senhor FFF. 
Nota: as duas moças amigas naquela época, hoje são senhoras casadas e mães, que por vários motivos resolvi não pedir uma aproximação. Não sei se elas têm a literatura por profissão. Mas com certeza ajudaram muito aquele jovem travado a passar a fase da adolescência bem mais seguro de si, pois os livros fazem milagres. E obrigado aos três porquinhos que me esconderam do Lobo Mau, na sua casinha de tijolos. Aliás, por me ensinarem a enfrentá-lo. Sinceramente.
- Vanderlei Carlos Santana -



sábado, 13 de setembro de 2014

Uma religião sem preconceitos



Religião deveria simbolizar respeito e amor. Entretanto não é o que percebemos, numa época em que a fé está servindo de estratégia e arma para tantos ignorantes e oportunistas.  

Enquanto o novo Papa reformula os conceitos católicos, temos que aturar algumas igrejas que surgem e crescem desenfreadamente, chefiadas e lotadas por seres que são tudo, menos religiosos, misturando Deus com política e usando seus dogmas como ferramentas para promoverem a ostentação, a riqueza, o poder, a ganância, a maldade e a intolerância, ferindo os nossos princípios, valores e éticas de cidadãos.

Mas para os pastores Marcos Gladstone e Fábio Inácio, que divulgam sua moderna doutrina às pessoas em geral, em destaque para a comunidade homossexual, amar é algo concebível a qualquer um, como diz os versículos de Coríntios, 13:4-7: “O amor é benigno” e “não suspeita mal”.

Foi a partir desses e outros versos da sagrada escritura que o então jovem advogado, Marcos Gladstone, estudou Teologia e iniciou seu revolucionário trabalho de doutrina, após ter vivido um certo tempo no terreno americano, regressado ao Brasil e aberto um templo vinculado a Metropolitan Community Churches (Igreja da Comunidade Metropolitana), que prestava serviço social e ecumênico aos homossexuais.

Dois anos depois conheceu Fábio Inácio, que era supervisor de atendimento bancário e estudava Comunicação Social. Ambos vinham de retrógadas formações evangélicas. E aquela união resultou na criação da Igreja Contemporânea, no qual todos são aceitos indiscriminadamente.

A princípio alugaram uma pequena cobertura em um prédio comercial, no centro do Rio, onde surgiram os primeiros adeptos. Logo o culto se mudou para o térreo inteiro e maior da mesma construção. E outras filiais começaram a inaugurar na cidade e no país, através de um crescente público, entre assíduos e visitantes, novos ou periódicos, constituídos pelos mais variados níveis, idades e educação, entre famílias, solteiros e casais do sexo oposto ou igual.

Lá, “os contemporâneos”, como são chamados, louvam a Deus, unidos pela igualdade e crença. E a cada ano celebraram sua existência, realizando um grande ritual no Teatro Serrador, que comporta cerca de quinhentos fiéis.

“Após conhecer o Pastor Marcos compreendi o significado do livre acesso para adorar a Deus como realmente sou”, declarou o Pastor Fábio. “Fui criado no evangelho desde criança. Formei-me pastor em outra congregação e tive até noiva. Hoje, posso ser eu mesmo e realizar o meu trabalho de amor e fé, com consciência e verdade. Por muitos séculos vivemos na cegueira espiritual, na direção do medo, tapados pela mordaça da culpa e engessados por preconceitos religiosos”.

“Desde os tempos mais remotos, vemos cada vez mais certos desvios doutrinários, apreciados por líderes religiosos mal-intencionados, apropriando-se de inverdades e se esforçando arduamente para exercitá-los”, confirmou o Pastor Marcos, que também havia sido noivo. Ele assegura que é possível um homossexual conhecer e viver as verdades divinas: “Toda inverdade deixa um rastro que, cedo ou tarde, alguém percebe, sinalizando brechas. A maquiagem escorre, cai por terra o reboco mal feito e então visualizamos o que realmente estava por trás daquela capa”.

Para eles, que se empenham contra qualquer forma de preconceito, principalmente o sexual, o fato está se rompendo com o feliz número de devotos que cresce a cada dia. “A homofobia religiosa”, contestam, “provém da errônea tradução e distorção das palavras de Deus”.

Além de prestar assistência humanitária e religiosa, a igreja possui uma intensa agenda de atividades voltada para a formação e informação espirituais; programação cultural dos ministérios de música, coral, dança e teatro; encontros temáticos para solteiros e casais; passeios; retiros e outros.

“Uma nova comunhão que já é comum há muito tempo nos Estados Unidos e na Europa. Somos muito atrasados aqui no Brasil, mas isso está finalmente mudando”, desabafa um dos frequentadores, que também pertence ao meio artístico. “Aqui na Igreja Contemporânea eu me sinto inserido no mundo. Ganho novamente credibilidade no ser humano e saio com esperança de uma vida melhor. É tão bom participar de algo que não esteja voltado às fúteis e arrogantes estéticas capitalistas e físicas que predominam no meio gay”, confessa outro membro.

De acordo com eles, por muitos anos os homossexuais foram marginalizados por suas diferentes “condições” sexuais, que não são “opções”, como muitos rotulam e confundem. “É notório no decorrer da história a quantidade de atrocidades cometidas devido à intolerância dos homens”.

Como concretização de sua carreira e liderança, o Pastor Marcos Gladstone também lançou “A bíblia sem preconceitos”, amparando-se a explicar e tecer outros olhares a respeito da bíblia, desmitificando seus julgamentos equivocados, opressores e arcaicos. “A bíblia foi muito usada para a exclusão através da catequização manipuladora”, escreve o autor. “Imagine hoje alguém ser afastado de Deus, por exemplo, porque nasceu negro. Outra vítima do preconceito religioso foram as mulheres. Então por que privar homossexuais do livre acesso ao Reino de Deus?”

Dentro dos onze capítulos muito bem distribuídos, com apresentação do Pastor Fábio e introdução do próprio autor, o livreto tem uma linguagem acessível e ao mesmo instante formal, que sugere uma leitura atenciosa e um preço acessível. 

Aborda os principais temas do polêmico universo religioso homossexual respaldando-se em análises bem fundadas, exemplificados com situações e mensagens de outros interlocutores. E rapidamente atingiu uma espantosa venda e repercussão, aproximando os que procuram um abrigo espiritual sem as antigas amarras discriminatórias, atraindo os curiosos e estudiosos sobre o assunto, e incomodando os que detêm a ignorância em prol de seus interesses e poderes.

“Não estamos falando de heterossexuais que fazem sexo homossexual para quebrar a rotina, mas de dados pessoais da conduta e relação gays, com liberdade para amar, que é o contrário da libertinagem”, explica Marcos, que cita as más traduções bíblicas, inovando o seu ministério profético. “Texto sem contexto é pretexto”.

“Nossa missão é levar o amor de Deus a todos e sem preconceitos”, enfatizam eles, convidando aos que desejam alçar voos por diferentes céus e ficarem livres das injustiças: “Venham viver nas asas de um novo tempo”.

E parabéns aos corajosos rapazes que estremecem os alicerces contemporâneos, ensinando com sabedoria, paz e amor, para uma humanidade tão torpe e carente, o que é diversidade, respeito e cidadania.


domingo, 7 de setembro de 2014

Um viajante solitário e feliz



Ernesto Chulón entre os escritores Fábio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre.

Passeando por Paraty, em meio a Flip, com a atriz Kátia D'Angelo e Amaral, não é que meu parceiro Lucas Nobre reencontrou um amigo um tanto original?

Ernesto Chulón é um argentino que sorri até respirando e com uma alma mundana. 

Sua fama já se estende desde o sul do país, quando, numa noite de inverno, mais precisamente em 02 de maio de 2013, o rapaz, então com 25 anos, resolveu viver uma forte experiência, enfrentando seus limites e buscando a liberdade plena, iniciando uma jornada louca, longa e sem destino da Argentina pelo mundo afora, apenas com sua bicicleta devidamente equipada. 



Procurando o sentido da existência e do que realmente significa pertencer ao processo evolutivo, como ele mesmo diz, começou a pedalar sem rumo, 'vivendo como um homem livre que escolhi, segundo os ditames da consciência e o ritmo do meu coração.' 

Sua justificativa para trocar a vida comum e banal, que ele chama de limitação, e de seguir inconscientemente, representa-lhe fazer o que ama: ser livre. 

Mas, para isso, Ernesto ou Chulón, como simplesmente é conhecido, traz seu lado espiritualizado, alegando que busca pelas estradas a linguagem do coração, aprendendo com os que sabem, com os que aqui estão e até com os que já partiram.



Em sua brincadeira de rodar por aí, Chulón leva a vida a sério. E deseja 'extrair de cada momento o seu melhor suco, seja na calmaria ou na tempestade, na alegria ou na tristeza, pois cada instante em que pedala lhe soa como uma ação sagrada'. 

Viajar, para ele, é mais uma grande aventura, principalmente através de uma bicicleta, onde se permite desafiar e satisfazer uma necessidade que é o seu centro de gravidade, fortemente atraído por um núcleo misterioso e pelas forças que lhe são incompreensíveis, sentindo que tais energias lhe servem também de alimentos essências.    

O viajante errante, além de extrovertido e comunicativo, diz ter nascido num momento histórico da humanidade, e por isso quer também fazer da história, aproveitando tudo aquilo que contribui para a sua caminhada e busca da felicidade.

Ele se considera um 'filho da existência, da terra e da criação'. E segue com o seu direito legítimo e aventureiro de atravessar e conhecer os mistérios da vida. 'A beleza está em todos os lugares, nós é que não as biscamos ou sequer as enxergamos.'



Agora completando um ano de andança ou 'pedalança' instintiva e intuitiva, Chulón comemora sem parar, por onde passa, o que lhe permite 'a possibilidades de expressar, sentir e recordar sempre da principal causa de optar por isso: o desejo de partilhar a liberdade com tudo e todos que encontro pela frente, onde cada um trilha - ou não - ao seu estilo.'   

Conforme um folheto feito por ele mesmo, que espalha poeticamente por onde passa, entre fotografias que alguns pedem para tirar com ele, diz: 'Como acontece com todos nós, sempre vivemos momentos de felicidade. São momentos divinos. São faíscas de luz diante da vida cinza e ordinária. Mas que duram pouco, porque sempre aparece um sofrimento que apaga ou não traz energia suficiente para mantê-la acesa.'    

E foi assim que nós o encontramos, naqueles dias festivos em Paraty. Ou que ele os encontrou: Viajante, solitário e sonhador.

Mas feliz.


  



  

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Adeus, Joan Rivers



Nós tivemos Dercy Gonçalves. Os americanos tiveram Joan Rivers.

Fora o humor debochado e a feminilidade meio exagerada de ambas, Joan foi diferente de Dercy. Mais over, tanto nas críticas quanto na vaidade. E com menos longevidade.

Considerada a Rainha do Riso da América e uma das pioneiras no gênero stand up cômico, virou um dos ícones da cirurgia plástica nos EUA, realizando quase mil operações durante toda a vida, alegando que o mundo artístico não perdoava feiura e nem velhice. 

Linda e talentosa, Joan foi atriz, roteirista, comediante e apresentadora. Adorava moda. Fazia a cobertura do Oscar e eternizou a frase em cima do tapete vermelho: 'Quem você está vestindo?'

Deixou sua herança num testamento para a filha Melissa, com alguns pedidos surreais: que seu funeral fosse um grande acontecimento digno de Hollywood, como um verdadeiro showbiz de luzes, câmeras e ação, incluindo o serviço de buffet, uma iluminação cinematográfica e toda imprensa. 


Mesmo de origem judaica, registrou que preferia as lágrimas dramáticas da amiga Meryl Streep ao ritual de um rabino. E trocava o discurso judaico pela voz de Bobby Vinton cantando 'Mr. Lonely'. Quis ser vestida com um modelito a la Valentino que deixou escolhido. E que Harry Winston lhe fizesse uma etiqueta personalizada para pendurarem no dedão do seu pé. 

O mais original e engraçado foi o pedido de uma máquina de vento em direção ao caixão, para que seu cabelo voasse como o de Beyoncé nos palcos. 

Se os seus exóticos desejos fúnebres foram realizados, não sei, mas um documentário exibido em sua homenagem mostra a emocionante cena em que Joan, antes de realizar uma de suas últimas intervenções cirúrgicas, parece sentir que algo ruim lhe aconteceria. 

Triste e insegura, ela se despede da filha, num momento de sincera e íntima emoção, afirmando que, se caso algo lhe acontecesse, não dissessem que ela havia partido cedo, pois tinha vivido muito e bem, com diversos momentos felizes. E ainda comenta que apesar de tudo a vida pode ser divertida como um filme.

Então, aos 81 anos, faleceu essa semana, por complicações cirúrgicas. 

É. As pessoas se vão, mas ficam suas histórias. Todos os artistas são mortais porém os mitos duram para sempre.


Algumas frases revelando o humor negro de Joan:

"É preciso estar maravilhosa até morta." 

"Não faço exercícios. Se Deus quisesse que eu me agachasse, ele teria colocado diamantes no chão."

"Não me importo se acontecem coisas boas e ruins. O importante é que você está vivo. As coisas estão acontecendo."

"Eu fiz sucesso falando o que todo mundo está pensando."

"Comecei a pensar em piadas enquanto eu estava caminhando pela cidade no 11 de setembro."

"Comédia é um jogo de homens brancos nervosos. Mesmo se você for Chris Rock ou Joan Rivers, você de fato é um homem branco e nervoso."

"Tudo o que minha mãe me disse sobre sexo é que o homem deveria ficar em cima, e a mulher, embaixo. Então, por três anos, meu marido e eu dormimos em uma beliche."

"Já fiz tantas plásticas que quando eu morrer vão doar meu corpo para a Tupperware."

"Parecer ter 50 anos é ótimo... se você tem 60 anos. "

"Meus pais não gostavam de mim. Eu tinha 9 anos e minha mãe ainda tentava fazer um aborto."

"Katie Holmes não é uma atriz tão boa. Você a viu interpretando a mulher de John F. Kennedy? Foi tão ruim que ele deu um tiro em si próprio."

"Olha, ninguém é 100% feliz. Eu sou 93% feliz, o que significa que sou muito sortuda. Acho que qualquer um que alcança 60% deveria agradecer."

"Eu sabia que eu era uma criança indesejada quando vi que meus brinquedos de banho eram uma torradeira e um rádio."

"Aprendi a apreciar momentos marcantes, como o Emmy que ganhei em 1990, um dos melhores momentos da minha carreira. Infelizmente, quando fui penhorá-lo, não era de ouro."

"Os peitos da Demi Moore estão tão separados que só se falam pelo skype."

"O único jeito que eu consegui para que um homem me toque nessa idade é com cirurgia plástica."


"Não faça amizade com seus cachorros! Aqueles filhos de umas cadelas vão literalmente morrer antes de você e te deixar triste." 
"Estilo é como herpes. Você tem ou não."
"Eu disse que Justin Bieber parecia uma pequena lésbica - e mantenho o que disse. Ele é a filha que Cher gostaria de ter." 
"Sabe por que me sinto velha? Fui comprar uma lingerie sexy e eles automaticamente embalaram achando que era para presente." 
"Olha só a Gwyneth Paltrow sendo eleita a mulher mais bonita esse ano. Ela conseguiu os votos de Hellen Keller e Stevie Wonder (cegos)."
"Minhas últimas palavras vão ser: 'Abaixe essa arma, era só uma piada!'" 
"As pessoas que votam para o Oscar são tão velhas. Eu nunca vi uma mulher da Academia com um absorvente na bolsa."  -
"Minha vagina é como New Jersey. Os homens sabem que está lá, mas não querem ir visitar." 
"A única vez que minha filha realmente chorou foi quando eu me sentei com ela e disse que ela não era adotada." 
"Mal posso esperar a carreira de Britney Spears terminar para que ela possa me servir café em uma loja de conveniência."