terça-feira, 10 de junho de 2014

Família Fabretti


Antigo brasão romano da família Fabretti.

É comum as pessoas pensarem que meu nome é uma invenção artística, criada para o meu trabalho autorial. E com razão, pois até eu duvida que me chamava Fábio Fabrício Fabretti quando mais novo. 

Mas quem criaria um nome tão aliterado assim para si? Só os meus pais, claro. E gratuitamente. Ou para me sacanearem desde cedo, como costumo brincar.

O pior e mais entediante 'castigo' era a hora da chamada na sala de aula, durante minha infância e adolescência, quando os professores - que me conheciam há anos - faziam questão de citar meu nome completo, mesmo eu sendo o único Fábio da turma. E os alunos riam da 'piada', todos os dias, como se a ouvissem pela primeira vez.

Resolvi o 'problema' jurando que, ao atingir a maioridade, iria ao cartório e mudaria o destino do trágico - para mim - ou cômico - para os demais - nome. 

Mas quando finalmente completei 18, senti que perderia minha identidade se assim o fizesse. Resolvi assumir o meu 'castigo' e prometi que assinaria o nome completo eternamente. Aliás, um fato que por vezes gera brigas com editores e dúvidas em leitores. 

O mais interessante é que isso me despertou estudar sobre a origem do sobrenome, e procurar conterrâneos 'perdidos' por aí, desde longo tempo. 

No estado do Paraná, onde nasci e vivi até os 20 anos, os poucos descendentes dessa linhagem pertencem à minha família, mas não havia muitos registros de outros supostos parentes no resto do país, em especial no Rio de Janeiro, conforme apontavam minhas pesquisas nas listas telefônicas, no período pré-informático.

Com o advento da internet tive mais sorte em meu processo de busca. E quando surgiu o Orkut, a primeira rede social a virar febre no Brasil, consegui fazer alguns contatos e até amizades.

Há a possibilidade do nome vir do italiano arcaico, derivando algo como 'fabricante de pequenos instrumentos de ferro', para os construtores de armas antigas.  

Depois o Facebook esquentou esses laços e expandiu mais ainda minha curiosidade, onde achei até um site com o brasão e a história do meu sobrenome.

Abaixo algumas ruas italiana e brasileira e personalidades 'fabrettianas' que encontrei.


Via Fabretti em Perugia, região da Umbria.

Rua Osvaldo Fabretti decretada recentemente no loteamento do Jardim Bassoli, em Campinas. 



Único registro fotográfico de Ariodante Fabretti.

Certa vez o amigo e escritor Italo Moriconi viajou para os confins da Itália, quando estávamos trabalhando juntos num projeto literário, e pedi a ele que me trouxesse um livro de Ariodante, que descobri ter vivido no século XIX, na Itália, autor de vários estudos na época.

Italo retornou da viagem com um presente bem original: um manual dos direitos e deveres das antigas prostitutas romanas, todo escrito em latim pelo velho 'tio-avô'. 

Acho que Ariodante é o maior dos conterrâneos que existiu em nosso clã, deixando até ruas nomeadas em sua homenagem, na cidade de Perugia.

De acordo com o progresso das minhas pesquisas, ele também havia escrito uns cinco volumes da biografia intitulada 'Os Capitães da Úmbria', sobre a ordem dos cavaleiros errantes.

Além de escritor, Ariodante Fabretti foi professor, historiador, senador, cientista, maçom e revolucionário. Acreditava que a 'energia, substância e inteligência' criariam um mundo de riqueza material igualmente distribuída, e que a 'razão' abriria novas e infinitas oportunidades ao mundo moderno. 

Um fator que me intrigou foi a coincidência acadêmica. As tendências filosóficas e científicas que Ariodante tanto se atraia lhe despertaram o exótico interesse pelos temas da 'morte' e do 'morrer, criando uma fundação existente até hoje na Itália, onde estudam, documentam e teorizam sobre a nossa enigmática relação com a morte e a prática da cremação dos corpos.





2. RAFFAELLO FABRETTI


Busto de bronze de Raffaello Fabretti.

Um outro inesquecível mentor dos Fabrettis está em Raffaello, conhecido pelos inimigos como 'Faber, o Rusticus', poque tinha fama de impiedoso e montava um cavalo que chamavam de 'Marco Polo', por ajudá-lo a detectar antigos monumentos e inscrições em suas expedições científicas. 

Foi o responsável pelas escavações dos aquedutos romanos e primeiros estudos arqueológicos da velha necrópole, dotado da tradicional veia científica que parece reger a família.

Sua tendência literária também se fez presente. E ao entrar para a academia italiana dos autores árcades, Raffaello (ou Raphaello) preferiu usar o pseudônimo pastoral 'Iasitheus', como era o hábito dos poetas daquela geração.

Nascido numa incerta data, em meados de 1600, na possível cidade de Urbino, formou-se cedo em Direito e fez o Doutorado aos 18 anos, quando chamou a atenção do Cardeal Lorenzo Imperiali, que o levou para a Espanha, onde se tornou tesoureiro e auditor da legação papal. 

A convite do Cardeal Gaspare Carpegna, vigário do Papa Inocêncio XI, foi mandado então para Roma, como juiz de apelação do Capitólio, onde se especializou-se em antiquários, estudando as relíquias e esculturas europeias. 

A seguir o Papa Inocêncio XII o fez guardião dos arquivos do Castel Sant'Angelo, que ele aceitou até a sua morte, em 07 de janeiro de 1700. 

Além de epigrafista, deixou vários livros sobre a topografia do Lácio, a história medieval e a poesia árcade italiana, expostos hoje pelo Cardeal Stoppani no palácio ducal de Urbino. 

Muito de suas obras literárias são hoje tratadas como relíquias que guardam registros históricos e urbanos do país, mantidas preservadas para visitação e de valor inestimável, em sua maioria, assim como as antigas publicações que pertenciam ao Journal des Savants. 

Um busto de bronze com seu nome e imagem foi levantados no jardim da Piazzale Roma, em Urbino, cidade em que ele faleceu sozinho e deixou sua história.

Histórica edição de 1690 de Rafaello Fabretti.