quinta-feira, 12 de junho de 2014

Jussara Calmon, muito prazer


Capa do livro 'Jussara Calmon, muito prazer'.

Uma biografia caliente que não vale 
só pela história de vida da atriz,
mas pelos bastidores do cinema 
e televisão brasileiros. 
- Larissa Saram, Revista Marie Claire -

Fábio Fabrício Fabretti recuperou em seu livro
uma personagem fascinante.
- Mauro Ventura, Jornal O Globo -


A atriz Jussara Calmon com seu biógrafo Fábio Fabrício Fabretti.
/ Foto de divulgação /

Há exatamente três anos um editor me procurou para fazer a biografia de Jussara Calmon, uma das principais atrizes da Boca do Lixo, que foi uma central de filmes em São Paulo, responsável pelos filmes brasileiros nas décadas passadas, com Vera Fisher, Lucélia Santos e outras, inclusive Xuxa.

Entre eles se destaca 'Coisas eróticas', primeiro longa do gênero popular que fez parte do cinema brasileiro, também protagonizado por Jussara.

Tanto o filme quanto o reduto cinematográfico completariam 30 anos de história em nossas telas, servindo de foco para o documentário 'A primeira vez do cinema nacional, dos jovens cineastas e amigos Denise Godinho e Hugo Moura.

 Topei, claro. Afinal como recusar um trabalho tão instigante? E como não se encantar pela simplicidade e sinceridade de Jussara Calmon? 

Atriz, cantora e dançarina, ela abandonou o país e a carreira há pouco mais de uma década para viver na Europa, onde passou os últimos anos se dedicando ao marido produtor e pescador, além de lecionar dança e teatro, divulgando nossa cultura e ritmo brasileiro pela Noruega. 

Jussara mora numa ilhota rodeada pela água salgada onde pescam baleias (com o consentimento do governo) e bacalhaus, cercada por montanhas norueguesas, cheia de vento e rochas que compõem o cenário isolado, frio e povoado por menos de 200 habitantes, com uma escola que está fechada por falta de crianças e uma igreja que avista da sua janela. 



Ela pretendia voltar à ativa e a fazer o seu livro. Eu havia recém lançado o livro da Glória Pires, que repercutiu tão lindamente como ela, e estava escrevendo o da Neusinha Brizola, que vasculhava os submundos humanos. 

Abri uma brecha entre meus trabalhos e em cerca de 6 meses produzi a sua biografia, com a colaboração da querida Sonia Barbosa. Jussara não é só disciplinada na carreira, mas também muito organizada na vida. E tinha guardado todo o material que precisei para a pesquisa. 

Lançamos Jussara Calmon, muito prazer no Brasil e Noruega, desde o Teatro Augusta, Bienal embaixada internacional, chegando até a Feira Internacional de Frankfurt.

Tivemos capas em jornais assinados por Mauro Ventura, do O Globo, e por Larissa Saram, da Revista Marie Clair, que inseriu o livro na lista dos principais best-sellers internacionais, na categoria dos mais libertinos e brasileiríssimos, chamada Os livros mais assanhadinhos para se inspirar e se divertir, mostrando que os brasileiros são famosos no mundo pela espontaneidade e sensualidade à flor da pele, além de se orgulharem do sex appeal.

O livro apresentado na Feira Internacional de Frankfurt.
/ Foto de divulgação /

Sua história narra a trajetória de uma artista que passou fome, sofreu maus tratos e viveu na pobreza durante a infância, no Espírito Santo, até vir para o Rio se se tornar a garota propaganda preferida pela mídia, no anos 80, disputada pelas capas tanto das revistas publicitária como as eróticas, além de jornais como O Pasquim.

Descoberta pelos caça-talentos da Boca do Lixo, foi levada para assinar um contrato às escuras para um filme que nem ela ou os produtores sabiam bem o que seria. E acabou protagonizando o primeiro filme erótico brasileiro, Coisas eróticas, de Rafaello Rossi, inspirado no pioneiro e picante americano Garganta Profunda, que estourava na época. 

O filme foi um sucesso estrondoso, mesmo com o Brasil perdendo a Copa no ano de 1983 e a perseguição da censura. E ela continuou a brilhar nas telas do cinema, em produções de pornochanchadas e sérias, através de renomados diretores como David Neves, Neville de Almeida, Afrânio Vital, Milton Alencar Jr. e Francisco Cavalcanti.


Mídia internacional.

Também integrou o grupo de show chamado Brasil canta e dança, produzido por Haroldo Costa, junto de Pinah e Vera Verão. E com o regresso do teatro de revista, em meados dos anos 80, destacou-se como uma das principais vedetes a subir nos palcos dos clássicos teatros como o Rival e o João Caetano, ao lado de Colé Sant’Anna, Grande Othelo, Ankito, Nik Nicola e Henriqueta Brieba.

Nos anos 90,  participou de um grupo só de mulheres que cantava forró. Foi nomeada a Rainha das Atrizes. E ocupou o cardo de vice-presidente do Retiro dos Artistas. Incursionau em programas humorísticos e novelas da TV Globo, como Vale tudo, Tieta do Agreste, Despedida de solteiro e o especial A Maldita. 

Sua vida amorosa envolveu histórias inéditas com importantes homens como o ator Robert de Niro, com quem teve um amor de carnaval, Ibrahim Sued, Albino Pinheiro e o dono do Angu do Gomes, entre jogadores, intelectuais, empresários, produtores, diretores e militares. 


Mídia nacional.

Sempre dona de um grande apelo entre jovens e adultos, desde que se tornou uma das pioneiras do cinema nacional, numa época em que a arte brasileira enfrentava a censura e contava com poucos recursos, também chamava a atenção das crianças, mesmo sem nunca ter sido mãe. 

O público mirim já a conhecia pelas peças infantis que produziu e protagonizou no teatro carioca. E agora, coincidentemente ou não, está no elenco de Chiquititas, novo sucesso do SBT após Carrossel, com o papel da diretora escolar, bem similar ao da sua última novela da Globo, 'Sonho meu', quando cuidava de um orfanato. E mais um motivo para retornar frequentemente ao Brasil, além dos seus vínculos com o carnaval, desfilando como destaque todos os anos pela Beija-Flor, hábito que mantém do seu passado glorioso.



E mais: Com a repercussão do livro, ela está negociando com produtores locais e internacionais o convite de transformar a história num filme. 

Não posso deixar de dizer que uma das facetas mais bonitas do nosso trabalho é o interesse de despertar a leitura e instigar a superação motivacional nas pessoas, realizando palestras e doando exemplares para comunidades carentes ou excluídas da sociedade, como a Vila Mimosa, reduto de prostituição no Rio.





Considero-me sortudo pois os livros me apresentam lugares, pessoas e emoções. E Jussara é uma daquelas que entram na sua vida profissionalmente e se tornam mais que amigas.


Lançamento de 'Jussara Clamon, muito prazer' no Rio.


Jussara é a prova de que o artista brasileiro 
nasce com beleza e ascende com dificuldade. 
Mas chega lá! 
- Millôr Fernandes, em memória -