sábado, 13 de setembro de 2014

Uma religião sem preconceitos



Religião deveria simbolizar respeito e amor. Entretanto não é o que percebemos, numa época em que a fé está servindo de estratégia e arma para tantos ignorantes e oportunistas.  

Enquanto o novo Papa reformula os conceitos católicos, temos que aturar algumas igrejas que surgem e crescem desenfreadamente, chefiadas e lotadas por seres que são tudo, menos religiosos, misturando Deus com política e usando seus dogmas como ferramentas para promoverem a ostentação, a riqueza, o poder, a ganância, a maldade e a intolerância, ferindo os nossos princípios, valores e éticas de cidadãos.

Mas para os pastores Marcos Gladstone e Fábio Inácio, que divulgam sua moderna doutrina às pessoas em geral, em destaque para a comunidade homossexual, amar é algo concebível a qualquer um, como diz os versículos de Coríntios, 13:4-7: “O amor é benigno” e “não suspeita mal”.

Foi a partir desses e outros versos da sagrada escritura que o então jovem advogado, Marcos Gladstone, estudou Teologia e iniciou seu revolucionário trabalho de doutrina, após ter vivido um certo tempo no terreno americano, regressado ao Brasil e aberto um templo vinculado a Metropolitan Community Churches (Igreja da Comunidade Metropolitana), que prestava serviço social e ecumênico aos homossexuais.

Dois anos depois conheceu Fábio Inácio, que era supervisor de atendimento bancário e estudava Comunicação Social. Ambos vinham de retrógadas formações evangélicas. E aquela união resultou na criação da Igreja Contemporânea, no qual todos são aceitos indiscriminadamente.

A princípio alugaram uma pequena cobertura em um prédio comercial, no centro do Rio, onde surgiram os primeiros adeptos. Logo o culto se mudou para o térreo inteiro e maior da mesma construção. E outras filiais começaram a inaugurar na cidade e no país, através de um crescente público, entre assíduos e visitantes, novos ou periódicos, constituídos pelos mais variados níveis, idades e educação, entre famílias, solteiros e casais do sexo oposto ou igual.

Lá, “os contemporâneos”, como são chamados, louvam a Deus, unidos pela igualdade e crença. E a cada ano celebraram sua existência, realizando um grande ritual no Teatro Serrador, que comporta cerca de quinhentos fiéis.

“Após conhecer o Pastor Marcos compreendi o significado do livre acesso para adorar a Deus como realmente sou”, declarou o Pastor Fábio. “Fui criado no evangelho desde criança. Formei-me pastor em outra congregação e tive até noiva. Hoje, posso ser eu mesmo e realizar o meu trabalho de amor e fé, com consciência e verdade. Por muitos séculos vivemos na cegueira espiritual, na direção do medo, tapados pela mordaça da culpa e engessados por preconceitos religiosos”.

“Desde os tempos mais remotos, vemos cada vez mais certos desvios doutrinários, apreciados por líderes religiosos mal-intencionados, apropriando-se de inverdades e se esforçando arduamente para exercitá-los”, confirmou o Pastor Marcos, que também havia sido noivo. Ele assegura que é possível um homossexual conhecer e viver as verdades divinas: “Toda inverdade deixa um rastro que, cedo ou tarde, alguém percebe, sinalizando brechas. A maquiagem escorre, cai por terra o reboco mal feito e então visualizamos o que realmente estava por trás daquela capa”.

Para eles, que se empenham contra qualquer forma de preconceito, principalmente o sexual, o fato está se rompendo com o feliz número de devotos que cresce a cada dia. “A homofobia religiosa”, contestam, “provém da errônea tradução e distorção das palavras de Deus”.

Além de prestar assistência humanitária e religiosa, a igreja possui uma intensa agenda de atividades voltada para a formação e informação espirituais; programação cultural dos ministérios de música, coral, dança e teatro; encontros temáticos para solteiros e casais; passeios; retiros e outros.

“Uma nova comunhão que já é comum há muito tempo nos Estados Unidos e na Europa. Somos muito atrasados aqui no Brasil, mas isso está finalmente mudando”, desabafa um dos frequentadores, que também pertence ao meio artístico. “Aqui na Igreja Contemporânea eu me sinto inserido no mundo. Ganho novamente credibilidade no ser humano e saio com esperança de uma vida melhor. É tão bom participar de algo que não esteja voltado às fúteis e arrogantes estéticas capitalistas e físicas que predominam no meio gay”, confessa outro membro.

De acordo com eles, por muitos anos os homossexuais foram marginalizados por suas diferentes “condições” sexuais, que não são “opções”, como muitos rotulam e confundem. “É notório no decorrer da história a quantidade de atrocidades cometidas devido à intolerância dos homens”.

Como concretização de sua carreira e liderança, o Pastor Marcos Gladstone também lançou “A bíblia sem preconceitos”, amparando-se a explicar e tecer outros olhares a respeito da bíblia, desmitificando seus julgamentos equivocados, opressores e arcaicos. “A bíblia foi muito usada para a exclusão através da catequização manipuladora”, escreve o autor. “Imagine hoje alguém ser afastado de Deus, por exemplo, porque nasceu negro. Outra vítima do preconceito religioso foram as mulheres. Então por que privar homossexuais do livre acesso ao Reino de Deus?”

Dentro dos onze capítulos muito bem distribuídos, com apresentação do Pastor Fábio e introdução do próprio autor, o livreto tem uma linguagem acessível e ao mesmo instante formal, que sugere uma leitura atenciosa e um preço acessível. 

Aborda os principais temas do polêmico universo religioso homossexual respaldando-se em análises bem fundadas, exemplificados com situações e mensagens de outros interlocutores. E rapidamente atingiu uma espantosa venda e repercussão, aproximando os que procuram um abrigo espiritual sem as antigas amarras discriminatórias, atraindo os curiosos e estudiosos sobre o assunto, e incomodando os que detêm a ignorância em prol de seus interesses e poderes.

“Não estamos falando de heterossexuais que fazem sexo homossexual para quebrar a rotina, mas de dados pessoais da conduta e relação gays, com liberdade para amar, que é o contrário da libertinagem”, explica Marcos, que cita as más traduções bíblicas, inovando o seu ministério profético. “Texto sem contexto é pretexto”.

“Nossa missão é levar o amor de Deus a todos e sem preconceitos”, enfatizam eles, convidando aos que desejam alçar voos por diferentes céus e ficarem livres das injustiças: “Venham viver nas asas de um novo tempo”.

E parabéns aos corajosos rapazes que estremecem os alicerces contemporâneos, ensinando com sabedoria, paz e amor, para uma humanidade tão torpe e carente, o que é diversidade, respeito e cidadania.