domingo, 7 de setembro de 2014

Um viajante solitário e feliz



Ernesto Chulón entre os escritores Fábio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre.

Passeando por Paraty, em meio a Flip, com a atriz Kátia D'Angelo e Amaral, não é que meu parceiro Lucas Nobre reencontrou um amigo um tanto original?

Ernesto Chulón é um argentino que sorri até respirando e com uma alma mundana. 

Sua fama já se estende desde o sul do país, quando, numa noite de inverno, mais precisamente em 02 de maio de 2013, o rapaz, então com 25 anos, resolveu viver uma forte experiência, enfrentando seus limites e buscando a liberdade plena, iniciando uma jornada louca, longa e sem destino da Argentina pelo mundo afora, apenas com sua bicicleta devidamente equipada. 



Procurando o sentido da existência e do que realmente significa pertencer ao processo evolutivo, como ele mesmo diz, começou a pedalar sem rumo, 'vivendo como um homem livre que escolhi, segundo os ditames da consciência e o ritmo do meu coração.' 

Sua justificativa para trocar a vida comum e banal, que ele chama de limitação, e de seguir inconscientemente, representa-lhe fazer o que ama: ser livre. 

Mas, para isso, Ernesto ou Chulón, como simplesmente é conhecido, traz seu lado espiritualizado, alegando que busca pelas estradas a linguagem do coração, aprendendo com os que sabem, com os que aqui estão e até com os que já partiram.



Em sua brincadeira de rodar por aí, Chulón leva a vida a sério. E deseja 'extrair de cada momento o seu melhor suco, seja na calmaria ou na tempestade, na alegria ou na tristeza, pois cada instante em que pedala lhe soa como uma ação sagrada'. 

Viajar, para ele, é mais uma grande aventura, principalmente através de uma bicicleta, onde se permite desafiar e satisfazer uma necessidade que é o seu centro de gravidade, fortemente atraído por um núcleo misterioso e pelas forças que lhe são incompreensíveis, sentindo que tais energias lhe servem também de alimentos essências.    

O viajante errante, além de extrovertido e comunicativo, diz ter nascido num momento histórico da humanidade, e por isso quer também fazer da história, aproveitando tudo aquilo que contribui para a sua caminhada e busca da felicidade.

Ele se considera um 'filho da existência, da terra e da criação'. E segue com o seu direito legítimo e aventureiro de atravessar e conhecer os mistérios da vida. 'A beleza está em todos os lugares, nós é que não as biscamos ou sequer as enxergamos.'



Agora completando um ano de andança ou 'pedalança' instintiva e intuitiva, Chulón comemora sem parar, por onde passa, o que lhe permite 'a possibilidades de expressar, sentir e recordar sempre da principal causa de optar por isso: o desejo de partilhar a liberdade com tudo e todos que encontro pela frente, onde cada um trilha - ou não - ao seu estilo.'   

Conforme um folheto feito por ele mesmo, que espalha poeticamente por onde passa, entre fotografias que alguns pedem para tirar com ele, diz: 'Como acontece com todos nós, sempre vivemos momentos de felicidade. São momentos divinos. São faíscas de luz diante da vida cinza e ordinária. Mas que duram pouco, porque sempre aparece um sofrimento que apaga ou não traz energia suficiente para mantê-la acesa.'    

E foi assim que nós o encontramos, naqueles dias festivos em Paraty. Ou que ele os encontrou: Viajante, solitário e sonhador.

Mas feliz.