terça-feira, 12 de agosto de 2014

Vinte e dois anos sem Daniella Perez


O amigo Domingos Sávio havia me pedido, há um certo tempo já, para escrever um texto na página que ele havia criado em homenagem à Daniella Perez, desejando fazer uma surpresa para sua mãe, a autora Glória. E agora, logo após o aniversário da jovem que completaria quarenta e quatro anos, e que nunca conseguiremos esquecer, e depois de conhecer pessoalmente Gloria Perez no lançamento do livro sobre Neusinha Brizola, que escrevi com Lucas Nobre, aqui vão finalmente minhas palavras, ajudadas pelo amigo e compositor Júlio César. Não uma dívida salda, mas com o amor que às vezes tanto parece faltar no mundo em que vivemos.

Uma estrela jamais deixa de existir no universo.

Elas nascem e se transformam, mas nunca se apagam. 

Sua luz continua percorrendo intermináveis caminhos. E quanto mais longe estiver, mais forte e longo será seu brilho, no qual mão alguma pode tocar, mas que os olhos podem alcançar inebriados.

Algumas estrelas surgem em nosso planeta com a missão de semear a beleza, a paz, o amor, a justiça e a sensibilidade, muitas vezes incorporando uma sublime força que chamamos simplesmente de arte.

Aos que acreditam em algo mais além da matéria, podemos dizer que somos como as estrelas. Não deixamos de existir. Só nos transformamos. Exatamente como o amor, que, quando verdadeiro e incondicional, não desaparece: apenas se acomoda em algum cantinho dentro de nós. E lá constrói seu ninho. Abrigado. Vivo. Para todo o sempre.

Daniella Perez Gazolla completa vinte e dois anos de partida, porém não deixa de irradiar sua luz no firmamento de cada um que a conheceu, de alguma forma, pessoalmente ou nas telas.

Nenhum céu sobrevive sem estrelas. Nem anjos. Criaturas divinas e criadas para nos proteger, guiar, cuidar e amar, enfeitando nossas vidas e salvando nossas dores, cujas presenças são essenciais entre nós que ainda habitamos esse plano. Afinal, anjos não precisam aparecer para saber que existimos. Basta senti-los.

Em seu olhar que Dani transbordava uma ingenuidade doce, seus gestos leves que demonstravam uma força descomunal, sua presença que preenchia nossos sonhos, sua voz que musicava a alma e sua beleza que deixava o mundo mais perfeito, ela ainda brilha entre nós.

Dani era mais do uma pessoa ou artista. É poesia, fada, anjo, estrela, luz. Ou qualquer coisa especial, livre e ofuscante, e que irradia a esperança de que um dia a humanidade poderá valorizar mais o amor do que a ganância, mais a realidade do que a ilusão, mais a felicidade do que a fama. Porque ela foi assim e deixou sua mensagem.    

E suas sapatilhas, hoje penduradas carinhosamente numa parede, contam uma parte da sua história, através do tecido ruço e das solas gastas, guardando os primeiros e últimos passos que ela deu nos palcos da vida. E possuem invisíveis asas, que se abrem no escuro da memória, ruflam no silêncio da saudade e se debatem rumo ao céu das lembranças, para dançarem no teto estrelado dos nossos corações, onde finalmente repousará, sem deixar de pertencer ao eterno recomeço. 

Abaixo, fotos inéditas e gentilmente cedidas por Glória Perez para Domingos Sávio, que ilustram a página do Face.