terça-feira, 5 de agosto de 2014

'Neusinha Brizola sem mintchura' em Paraty

Arte de Rodrigo Manhães.

A primeira vez em Paraty, seja como autor ou leitor, a gente nunca esquece.

Normalmente o evento da Flip acontece no meio do ano letivo, quanto estou às voltas com as provas e aulas de recuperação dos alunos. E isso inviabiliza minha ida. Mas agora o sonho se realizou, através do esforço da atriz Kátia D'Ângelo, em parceria com o professor e diretor teatral Ailton Amaral (que viveu seu momento Van Gogh), e um convite de Luiza Faria, organizadora do Circuito Off-Flip.

Todos sabem que a Flip é a Feira Literária Internacional que acontece em Paraty, e o Circuito Off ocorre antes e paralelamente, promovendo eventos alternativos e regionais. Embora a estrutura da Flip tenha sido reduzida, já o da Off cresceu, completando dez anos de atividades.



Paraty é uma cidade na divisa entre Rio e Sampa, que atrai milhares de turistas, costurada pelas partes nova e a velha, que a faz parecer um cenário de época ou um presépio histórico, com sua arquitetura colonial de janelas e portas coloridas, transformada em pousadas, bares, restaurantes e lojas, espalhados pelas ruas de pedras irregulares.

A região é cercada por montanhas e praias paradisíacas. E a cidade ladeada por uma baía que, quando a maré sobe ou a chuva se intensifica, deixa o cima ainda mais romântico, parecendo Veneza.

Já havia passeado por lá com amigos, em outros tempos, mas não durante a Flip, que dá um brilhantismo totalmente diferente para o local, com uma proliferação de pessoas e toda estrutura montada para a ocasião, onde tudo o que não respira literatura é arte.

A surpresa também é encontrar amigos queridos pelos becos culturais, como Santiago Nazarian, Nelson Motta, Leila Oli, João de Corujão, Tavinho Paes, Camila Carandino, Renata Emily, Imídia, Paulo Girão e Mano Melo, entre outros, que interagiram lindamente em nossa apresentação.


Fazendo parte do roteiro cultural e turístico de Paraty.

Cercado pelo carinho de um público que misturava curiosos, leitores e amigos, fizemos um debate sobre biografias 'chapas-brancas' no Brasil e uma sessão de autógrafos no simpático Lima Bistrô, localizado atrás do Pousada do Limoeiro, quase em frente à Prefeitura, com um delicioso cardápio de café caiçara. 


Lucas Nobre, Luiza Faria, Kátia D'Ângelo, Fábio Fabricio Fabretti e Hailton Amaral.
/ Foto de Eliane Torino /

Também tivemos a oportunidade de assistir ao show da Gal, que abriu a temporada. Era uma das cantoras que eu não ainda conhecia pessoalmente e cuja forte presença cênica comoveu a nós, na área vip, como a toda imensidão de pessoas ao redor.

A palavra que posso definir aquela viagem é 'mágica'. E o amor que eu e Lucas Nobre recebemos foi tanto que deixou saudade antes mesmo de partirmos, e a certeza de que Paraty realmente é para mim, para nós e para todos!

De todos os jornais de grande circulação no país, somente não havíamos saído no O Globo, que ressaltou, na matéria de Thaís Britto, a nossa opinião quanto a polêmica das biografias autorizadas ou não.



Escritores debatem lei das biografias em Paraty 

Biógrafo de Neusinha Brizola diz que prefere histórias autorizadas

E meio à discussão sobre o projeto de lei das biografias que causou polêmicas entre os escritores, artistas e entusiastas do gênero desde 2013 - e que ainda tramita no Senado -, o segredo para escrever uma boa história sem correr maiores riscos judiciais é encontrar um biografado disposto a se expor sem vaidades. Tarefa difícil mas não impossível, garante Fábio Fabrício Fabretti, que ao lado de Lucas Nobre acabou de lançar na Flip "Neusinha Brizola sem mintchura", sobre a movimentada trajetória da filha de Leonel Brizola.
- Eu só trabalho com biografias autorizadas. Não tenho interesse em contar histórias de quem não quer ter sua história contada - Diz Fábio, que já havia escrito, ao lado de Eduardo Nassife, a biografia da atriz Gloria Pires.
- O melhor jeito de não fazer uma biografia chapa-branca é quando a pessoa está disposta a jogar tudo no ventilador. E foi o caso da Neusinha.


Verdades e verdades

Lucas, que é de São Borja, no Rio Grande do Sul, começou atuando como pesquisador para Fábio. Acabou ajudando-o a escrever e compartilhando a autoria do livro:
- É importante quando o biografado está disposto a falar não apenas do auge, mas também dos fracassos e desilusões. Muitas biografias acabam sendo apenas versões floreadas dos fatos e não a verdade. - Defende Lucas.
Mas, mesmo com uma biografia com a ampla contribuição de seu objeto de pesquisa (Neusinha ajudou na concepção do livro até sua morte, em 2011), as dificuldades aparecem. Para Fábio, as maiores foram os buracos históricos e as diferentes versões para um mesmo evento. A saída, diz, é confiar no biografado.
- Precisamos confiar porque a linha condutora é sempre o biografado. Mas é claro que existe a verdade absoluta e a de cada um. Pesquisamos com as outras fontes. Muitas vezes, deixamos algo em aberto para o leitor interpretar. 

(Thaís Britto)    



E para finalizar, um texto de Carlos Dei Ribas para a Folha do Litoral Costa Verde:

Neusinha Brizola sem Mintchura: "Dormi princesa e acordei sapa"

Um turbilhão de ávidos leitores, admiradores, artistas, poetas, moradores acariciam os pés-de-moleque seculares das ruas e ruelas de Paraty, com passos lentos, largos, dançando forró, batendo papos literários ou aleatórios, curtindo um teatro itinerante, se deliciando com uma cocada ou com os instrumentos indígenas expostos nas calçadas, dando prosseguimento à Festa Literária Internacional e ao Curto Circuito Off-Flip de 2014.

Para fechar a noite do segundo dia do Circuito Off - 2014, rolou o concentrado lançamento do livro biográfico "Neusinha Brizola, sem mintchura", de Fabio Fabrício Fabretti e Lucas Nobre, com apresentação da atriz Kátia D'Ângelo, no espaço cultural Lima Bistrô.

Segundo os autores, firmados no compromisso com a verdade, atendendo a um pedido da própria biografa ainda em vida, de que sua biografia servisse para os que querem viver e alavancar a vida, mesmo que isso fosse o seu último escândalo, foram quatro anos de trabalho e muita pesquisa para darem vida a uma biografia que mostrasse uma Neuzinha Brizola brilhante como pessoa, aflorando o seu lado humano, da sua convivência com a família e amigos e não a Neuzinha vastamente explorada politicamente, com intuitos escusos de destruição do pai, Leonel Brizola.


Kátia D'Angelo foi um elemento chave na construção deste trabalho, por ter sido uma amiga presente na vida de Neusinha Brizola, nos momentos de altas e baixas, que passou por situações constrangedoras, como quando voltava em um helicóptero oficial, com os netos de Brizola e o ex-namorado da cantora, Fernando Vannuci, da Ilha de Brocoió e, foram detidos pela Polícia Federal, ao pousarem no heliporto da Lagoa. Segundo ela, teria sido uma articulação/armação da mídia com intuitos de denegrir o ex-governador do Rio. Para ela, Neusinha disse que dormiu princesa e acordou sapa, por ocasião do exílio do pai (e da família).


Durante quase uma hora houve intenso e interessante debate, em que foram levantadas várias questões de conflitos, como "geração trash", "geração saúde" (anos 80/90), politizadas e alienadas, com destaque para um certo vácuo que se observa atualmente, em que, apesar do acesso à correnteza oceânica de informações, via web, paira no ar um marasmo de irreverências, como foi a "montanha russa" da vida de Neusinha Brizola.


(Carlos Dei Ribas)


Photobomb de Fábio Fabrício Fabretti em Paraty tirada por Lucas Nobre.